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Na historiografia por base na cultura brasileira, seja em questões políticas, sociais recorrentes por sistemas políticos de direito, história militar, história econômica, história religiosa, história da arte, em todos os aspectos recorremos à história da história. Em busca das verdades documentadas. E, para isso, como exemplo das pesquisas aplicadas deixo as matérias que foram examinadas constando as datas, eventos e por base a referência dada à ficção reformada de meu Romance A Prisioneira das Sombras.

Em base nesses assuntos e por base em meus estudos e paixão pelo Brasil Colonial deixo informações valiosíssimas de nossa cultura. E, em documentos históricos.

Historiografia Brasileira

Estudar e questionar as circunstâncias em que foram escritos os documentos que chegaram até nós é um ponto de suma importância dentro do tema mais amplo da História do Brasil. Em 1830, surgem os primeiros movimentos em direção a tentar fazer um apanhado do máximo possível de documentos produzidos até o momento no Brasil. Uma vez fazendo parte do reino de Portugal no formato do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e depois se tornando independente em 1822 na forma de Império do Brasil, surge a necessidade de se construir uma história nacional, de se criar a ideia de um povo brasileiro.

 

O movimento de afirmação de uma nacionalidade surge na Europa, e, principalmente, na Alemanha com o seu movimento político/literário/filosófico intitulado romantismo, que tem o nacionalismo como uma de suas principais bandeiras (tendo como um dos expoentes o pensador Johann Gottfried von Herder). O Brasil independente também precisava da história e dos historiadores para construir uma identidade nacional baseada nesses mesmos moldes.

 

Tal processo no Brasil teve um distante precursor em frei Vicente do Salvador, com sua História do Brasil (1627), onde despontam os primeiros indícios da formação de uma consciência de diferença e brasilidade. Contudo, o trabalho só circulou em manuscritos, teve escasso impacto em sua época e logo foi esquecido, sendo ressuscitado somente em meados do século XIX por Francisco de Adolfo Varnhagen e sobretudo Capistrano de Abreu, que o editou e publicou na íntegra em 1888, quando seu valor se tornou evidente, sendo considerado por vários estudiosos como o marco fundador da historiografia brasileira. Mesmo com esse atraso, segundo Darcy Ribeiro, "o melhor testemunho daqueles tempos [o Brasil colonial] se deve a frei Vicente do Salvador, natural da Bahia. Foi o primeiro intelectual assumido como inteligência do povo nascente, capaz de olhar nosso mundo e os mundos dos outros com olhos nossos, solidário com nossa gente, sem dúvidas sobre nossa identidade, e até com a ponta de orgulho que corresponde a uma consciência crítica".

 

Uma organização sistemática da historiografia nacional, no entanto, só começaria no século XIX, com a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1838. O instituto foi criado a partir de uma ideia surgida na Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, criada em 1827, de inspiração iluminista, e se propunha a incentivar o progresso e o desenvolvimento brasileiros com duas diretrizes centrais para seus trabalhos: a coleta e publicação de documentos relevantes para a história do Brasil e o incentivo de estudos de História no ensino público.

 

Em 1840, o IHGB elaborou uma competição para estabelecer o melhor plano para a escrita da história do Brasil, e quem a ganhou foi o botânico alemão Carl Friedrich Philip von Martius. Sua monografia, intitulada "Como se deve escrever a história do Brasil", foi publicada na Revista do IHGB em 1845, e nela Von Martius sugeriu um guia para um projeto histórico capaz de garantir uma identidade ao Brasil. Surgiu do seu projeto a interpretação do Brasil, do primeiro Brasil-Nação, que se estranhou profundamente nas elites e na população brasileira, lançando os alicerces do mito da democracia racial brasileira. Para ele, a identidade brasileira deveria ser buscada no que mais singulariza o Brasil: a mescla de raças.

 

[Texto de [Von Martius]

Primeiros à Iniciar a História Brasileira

Francisco Adolfo de Varnhagen, dentro deste movimento de criação da história da nação brasileira, surge como o primeiro a escrever uma história nacional brasileira. A obra de Varnhagen refletia uma preocupação nova no Brasil com a história, com a documentação sobre o passado brasileiro, que o IHGB representava. Teve um importante papel no processo de coleta de documentos, sendo o iniciador da pesquisa metódica nos arquivos estrangeiros, onde encontrou e elaborou inúmeros documentos relativos ao Brasil. Grande defensor da colonização portuguesa no Brasil, apreciava esta como um enorme feito que criava a possibilidade de sucesso para a recém criada nação brasileira.

[obra de Varnhagen]

Entre Épocas

Capistrano de Abreu tem uma trajetória ímpar para melhor entender o lugar inovador que teve na historiografia brasileira. Nascera em um Brasil escravagista e morreu em um Brasil República, e em um mundo social marcado profundamente pela bipolarização senhor-escravo, ele não foi nem uma coisa, nem outra. Sua família era pequena proprietária de terra e produzia para o próprio sustento. Vivia em um mundo social voltado para dentro, sem vínculos externos diretos. José Honório Rodrigues considera que Capistrano fez uma reviravolta na historiografia brasileira por sua posição teórica atualizada, seu conhecimento incomum dos fatos e seu novo ideal de história do Brasil. Capistrano constrói a sua interpretação do Brasil quando a Monarquia estava abalada, em xeque, assim como a escravidão, e se buscavam novas bases econômicas, sociais, políticas e mentais para o Brasil. Como diz Reis, "os intelectuais brasileiros do final do século XIX começaram a perceber a distância entre a realidade brasileira e o pensamento que eles próprios produziam". Tinham agora uma preocupação cientificista, em que Auguste Comte, Henry Thomas Buckle, Charles Darwin e Herbert Spencer serão as referências intelectuais predominantes. O pensamento de Capistrano revela esta divisão e confusão da discussão intelectual no Brasil no final do século XIX. Qual era sua tendência: mais positivista ou mais historicista? P. M. Campos firma que Taine, Buckle e Comte foram importantes na sua formação. Vamireh Chacon o considera um dos numerosos adeptos de Spencer da época. No pós Guerra do Paraguai, essa geração quer reinterpretar a história brasileira, privilegiando não mais o estado imperial, como Varnhagen, mas o povo e a sua constituição étnica. Capistrano nunca teria proposto uma explicação unilateral da história, mas sempre percebe a interdependência das diversas instâncias sociais.

 

A obra de Capistrano, Capítulos de História Colonial (1907), começa realizando uma descrição geográfica do Brasil, o palco sobre o qual se desenrolará a história que vai narrar. A sua obra é um ponto de referência da recepção da concepção moderna de história, com seu ideal objetivista da verdade, apoiada em documentos inéditos, testemunhas oculares, autores identificados das fontes. Para ele, o distanciamento do historiador deve se dar quando manipula as fontes; em um segundo momento, quando se interpreta, o quadro teórico das ciências sociais orientará a pesquisa com suas leis e teorias.

[Capistrano de Abreu]

Análise Internacional

Nelson Werneck Sodré é o teórico marxista mais importante dos anos 1950, embora não fosse o único, e seu projeto de "revolução brasileira é, portanto, ligado à tradição do redescobrimento do Brasil". Sodré é um militar pré-1964 e pertencia ao grupo, mais numeroso do que se imagina, dos militares ligados ao PCB. Nos anos de 1930-1940, sua perspectiva teórica sofreu influencias de autores materialistas como Haeckel e Büchner. Só nos anos 1950-1960 ele aprofundou os seus estudos do marxismo e reformulou algumas de suas posições como, por exemplo, a história da literatura, de 1938, em que conectava de forma determinista os fenômenos culturais ao processo de produção. Em 1922, a Semana de Arte Moderna já valorizava o tupi, e o PCB valorizava o negro-escravo e o branco-operário da nossa identidade.

 

Em 1964, Sodré passou uma temporada na prisão militar, e sua história nova foi proibida, o que não o impediu de continuar a sua obra, incansavelmente. Quartim de Moraes divide a história da consciência marxista no Brasil em três fases: primeira, etapa dogmática, pré-crítica, marxista leninista, quando predominou uma consciência opaca, feita de certezas cegas (1920-1940); segunda, fase de autonomização teórica (1940-1960); terceira, etapa de revisão crítica generalizada, um retorno às fontes do pensamento revolucionário, época da luta armada(pós-1960). Essas etapas do pensamento marxista brasileiro não são etapas necessárias e lineares, ele esclarece, nem se deduzem uma da outra. Sodré estaria mais para a primeira fase, mais pioneiro do que autônomo. Ele desenvolve uma análise do Brasil estreitamente ligada à análise do PCB, que estava ligado à III internacional, ao comunismo soviético e ao marxismo stalinista. Nos anos de 1950, ele elaborou de forma teórica as instituições e repetições dogmáticas do marxismo-leninismo dos militares do PCB. A ação a ser desenvolvida era a da revolução democrático-burguesa, pois as condições econômicas e políticas do Brasil indicavam que o socialismo só seria atingido após um período de transformações burguesas, que eliminaria os entraves feudais e quando se removeriam os obstáculos aso desenvolvimento das forças produtivas.

[Nelson Werneck Sodré]

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